MANIFESTO AUDIOVISUALIDADES

6 11 2009

O estudo das audiovisualidades, do modo como estas serão aqui enfocadas, decorre de um conjunto de ações articuladas e articuladoras de pesquisadores, em torno de uma problemática emergente nas mídias e na pesquisa em comunicação, que se relaciona ao audiovisual lato sensu como dispositivo central do atual momento do processo de globalização das culturas.

Essa problemática tende a ser tradicionalmente tratada, no entanto, na perspectiva de uma subdivisão do audiovisual em cinema, TV, vídeo e Internet, que, de fato, designam objetos de natureza distinta, ainda que afins. Nos últimos anos, o Grupo de Pesquisa Audiovisualidades (GPAv) tem buscado estudar o objeto audiovisual desde a perspectiva de sua irredutibilidade a qualquer mídia, admitindo que o audiovisual é também uma virtualidade que se atualiza nas mídias, mas que as transcende.

No recorte que operam sobre o objeto, os pesquisadores do GPAv têm focado suas pesquisas em três aspectos, não excludentes: 1. em estudos experimentais centrados nos devires de cultura e nos devires teórico-metodológicos; 2. no estudo dos processos da produção audiovisual marcada pela convergência tecnológica e por hibridismos formais, narrativos e expressivos; 3. no estudo das linguagens audiovisuais.

Assim, propõem-se, inicialmente, três dimensões para o conceito de audiovisual, capazes de gerar programas de estudos interdisciplinares com tais perspectivas. A primeira dimensão objetiva encontrar e analisar audiovisualidades em contextos não reconhecidamente audiovisuais. A tese que sustenta tal movimento fundamenta-se em Sergei Eisenstein, autor que reconhece que a presença do cinema precede a indústria cinematográfica, e em Gilles Deleuze, que encontra em Bergson o conceito de imagem-movimento, mesmo antes da invenção do cinema, e propõe o estudo desses devires (cinematográficos) como o estudo de culturas em potencial.

A segunda dimensão entende o audiovisual como um campo contemporâneo de convergência de formatos, suportes e tecnologias, resguardadas as especificidades do cinema, da televisão, do vídeo e das mídias digitais. O que se considera fundamental aqui é que tal convergência, para além de instaurar linguagens propriamente audiovisuais, promove uma reação em cadeia, de futuro inimaginável ainda, cujo elemento desencadeador de radicais mudanças para o audiovisual é ora a técnica, ora as estratégias discursivas; ora a economia, ora as estratégias de circulação e consumo.

A terceira dimensão que concorre para conceituar o audiovisual é a das linguagens, sejam gramaticais, sejam agramaticais, sua configuração, usos e apropriações. Aqui, são estudados e analisados os construtos audiovisuais como modos singulares de expressão e significação da experiência do mundo. Ressalte-se que tal análise é o lugar por excelência de onde se deve partir para que se compreendam as duas outras dimensões, que tornam visíveis operações antes impossíveis de serem apreendidas senão como devir.

Alexandre Rocha da Silva
Miriam de Souza Rossini
Nísia Martins do Rosário
Suzana Kilpp